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Poesia Portuguesa
Almeida Garrett
João Baptista da Silva Leitão de Almeida e mais tarde visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de Fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de Dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, Par do Reino, ministro e secretário de Estado honorário português.Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
Biografia
Primeiros anos
Garrett nasceu no Porto em 4 de Fevereiro de 1799. No período de sua adolescência foi viver para os Açores, na Ilha Terceira, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, bispo de Angra. Foi também aí que engravidou sua companheira Luisa Midosi.
Presença nas lutas liberais
Almeida Garrett participou na revolução liberal de 1820, de seguida foi para o exílio na Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada. Antes casou-se com uma muito jovem senhora Luísa Midosi, que tinha apenas 14 anos. Foi em Inglaterra que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo Shakespeare, Walter Scott e outros autores e visitando castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que se refletiriam na sua obra posterior.
Em 1824, pode partir para França e assim o fez, nessa viagem escreveu o muitíssimo conhecido Camões (1825) e Dona Branca (1826)não tão conhecido mas não menos importante, poemas geralmente considerados como as primeiras obras da literatura romântica em Portugal. No ano de 1826 foi chamado e regressou à pátria com os últimos emigrados dedicando-se ao jornalismo, fundando e dirigindo o jornal diário O Português (1826-1827) e o semanário O Cronista (1827).
Teria de deixar Portugal novamente em 1828, com o regresso do Rei absolutista D. Miguel. Ainda no ano de 1828 perdeu a sua filha recém-nascida. Novamente em Inglaterra, publica Adozinda (1828).
Juntamente com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, tomou parte no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833.Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833.
Vida política
A vitória do Liberalismo permitiu-lhe instalar-se novamente em Portugal, após curta estadia em Bruxelas como cônsul-geral e encarregado de negócios, onde lê Schiller, Goethe e Herder. Em Portugal exerceu cargos políticos, distinguindo-se nos anos 30 e 40 como um dos maiores oradores nacionais. Foram de sua iniciativa a criação do Conservatório de Arte Dramática, da Inspeção-Geral dos Teatros, do Panteão Nacional e do Teatro Normal (atualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Mais do que construir um teatro, Garrett procurou sobretudo renovar a produção dramática nacional segundo os cânones já vigentes no estrangeiro.Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett afasta-se da vida política até 1852. Contudo, em 1850 subscreveu, com mais de 50 personalidades, um protesto contra a proposta sobre a liberdade de imprensa, mais conhecida por “lei das rolhas”.
Litografia de Almeida Garrett por Pedro Augusto Guglielmi
(Biblioteca Nacional de Portugal).
Garrett sedutor
A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 20 e 30, distinguiu-se posteriormente sobretudo como o tipo perfeito do dândi, ou janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos.Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal. Separado da esposa, Luisa Midosi, com quem se casou, em 1822, quando esta tinha 14 anos de idade, passa a viver em mancebia com D. Adelaide Pastor até a morte desta, em 1841.
A partir de 1846, a sua musa é a viscondessa da Luz, Rosa Montufar Infante, andaluza casada, desde 1837, com o oficial do exército português Joaquim António Velez Barreiros, inspiradora dos arroubos românticos das Folhas caídas.
Por decreto do Rei D. Pedro V de Portugal datado de 25 de Junho de 1851 Garrett é feito Visconde de Almeida Garrett em vida (tendo o título sido posteriormente renovado por 2 vezes). Em 1852 sobraça, por poucos dias, a pasta do Negócios Estrangeiros em governo presidido pelo Duque de Saldanha.
Falece em 1854, vítima de cancro, em Lisboa, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique.
Obras
Teatro
Dá início ao seu projeto de regeneração do teatro português, levando à cena em 1838 Um Auto de Gil Vicente, pouco antes Filipa de Vilhena e, em 1842, O Alfageme de Santarém, todas sobre temas da história de Portugal.
Em 1844 é publicada a sua obra-prima, Frei Luís de Sousa, que um crítico alemão, Otto Antscherl, considerou a "obra mais brilhante que o teatro romântico produziu". Estas peças marcam uma viragem na literatura portuguesa não só na seleção dos temas, que privilegiam a história nacional em vez da antiguidade clássica, como sobretudo na liberdade da ação e na naturalidade dos diálogos e em 1845 foi representada a peça, "Falar a Verdade a Mentir".
Prosa
Em 1843, Garrett publica o Romanceiro e o Cancioneiro Geral, coletâneas de poesias populares portuguesas, e em 1845 o primeiro volume d'O Arco de Santana (o segundo apareceria em 1850), romance histórico inspirado por Notre Dame de Paris de Victor Hugo. Esta obra seduz não só pela recriação do ambiente medieval do Porto, mas sobretudo pela qualidade da prosa, longe das convenções anteriores e muito mais próxima da linguagem falada.
A obra que se lhe seguiu deu expressão ainda mais vigorosa a estas tendencias: Viagens na minha terra, livro híbrido em que impressões de viagem, de arte, paisagens e costumes se entrelaçam com uma novela romântica sobre fatos contemporâneos do autor e ocorridos na proximidade dos lugares descritos (outra inovação para a época, em que predominava o romance histórico). A naturalidade da narrativa disfarça a complexidade da estrutura desta obra, em que alternam e se entrecruzam situações discursivas, estilos, narradores e temas muito diversos.
Poesia
Na poesia, Garrett não foi menos inovador. As duas coletâneas publicadas na última fase da sua vida (Flores sem fruto, de 1844, e sobretudo Folhas Caídas, de 1853) introduziram uma espontaneidade e uma simplicidade praticamente desconhecidas na poesia portuguesa anterior.
Ao lado de poemas de exaltada expressão pessoal surgem pequenas obras-primas de singeleza ímpar como «Pescador da barca bela», ( o que mais li durante o período universitário), próximas da poesia popular quando não das cantigas medievais. A liberdade da metrificação, o vocabulário corrente, o ritmo e a pontuação carregados de subjetividade são as principais marcas destas obras.
Cronologia das obras
• 1819 Lucrécia• 1821 O Retrato de Vénus; Catão (representação); Mérope (representação)
• 1822 O Toucador
• 1825 Camões
• 1826 Dona Branca
• 1828 Adozinda
• 1829 Lírica de João Mínimo; Da Educação (ensaio)
• 1830 Portugal na Balança da Europa (ensaio)
• 1838 Um Auto de Gil Vicente
• 1841 O Alfageme de Santarém (1842 segundo algumas fontes)
• 1843 Romanceiro e Cancioneiro Geral - tomo 1; Frei Luís de Sousa (representação)
• 1845 O Arco de Sant'Ana - tomo 1; Flores sem fruto
• 1846 Viagens na minha terra; D. Filipa de Vilhena (inclui Falar Verdade a Mentir e Tio Simplício)
• 1848 As profecias do Bandarra; Um Noivado no Dafundo; A sobrinha do Marquês
• 1849 Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira
• 1850 O Arco de Sant'Ana - tomo 2;
• 1851 Romanceiro e Cancioneiro Geral - tomos 2 e 3
• 1853 Folhas Caídas
• 1871 Discursos Parlamentares e Memórias Biográficas (antologia póstuma)
Publicações periódicas
• 1827 “O cronista”
• 1830 " Memórias de uma África sofrida”
Obras de Garrett ordenadas e completas
Poemas
• Hino Patriótico, poema. Porto, 1820
• Ao corpo académico, poema. Coimbra 1821
• Retrato de Vénus, poema Coimbra, 1821
• Camões, poema. Paris, 1825
• Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Paris, 1826 (pseud. de F. E.)
• Adozinda, poema. Londres, 1828
• Lyrica de João Mínimo. Londres, 1829
• Miragaia, poesia. Lisboa, 1844 (eBook)
• Flores sem Fruto, poesia. Lisboa, 1845
• Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia , poesia. Lisboa, 1845
• Folhas Caídas, poesia. Rio de Janeiro e depois Lisboa,1853
• Camões, poema. 4ª ed. revista, com estudo de Camilo Castelo Branco. Porto, 1854
Obras póstumas
• Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Porto Alegre, 1859
• Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Nova York, 1860
• Bastardo do Fidalgo, poema. Porto, 1877
• Odes Anacreônticas: Ilha Graciosa. Évora, 1903
• A Anália, poesia inédita de Garrett. Lisboa 1932 (redac., Porto 1819)
• Magriço ou Os Doze de Inglaterra, poema. Coimbra, 1948
• Roubo das Sabinas, poemas libertinos I. Lisboa, 1968
• Afonseida, ou Fundação do Império Lusitano, poema. Lisboa 1985 (pseud.: Josino Duriense, redac., Angra 1815-16)
• Poesias Dispersas. Lisboa, 1985
• Magriço e os Doze de Inglaterra, poema incompleto, Lisboa, 1914
Peças teatrais
• Catão, tragédia. Coimbra, 1822
• Catão, tragédia. Londres, 1830
• Catão, tragédia. Rio de Janeiro, 1833
• Mérope, tragédia. Lisboa, 1841
• O Alfageme de Santarém ou A Espada do Condestável. Lisboa, 1842
• Um Auto de Gil Vicente. Lisboa, 1842
• Frei Luís de Sousa, 1843 (eBook)
• Dona Filipa de Vilhena, comédia. Lisboa, 1846
• Falar Verdade a Mentir, comédia. Lisboa 1846
• A Sobrinha do Marquês, 1848
• Camões do Rossio, comédia. Lisboa, 1852 (co-autoria de Inácio Feijó)
Obras póstumas
• Um noivado no Dafundo ou cada terra com seu uso cada roca com seu fuso: provérbio n'um acto. 1ª ed. Lisboa, 1857 (redac., Lisboa, 1847)
• Átala, drama. Lisboa, 1914 (redac., Coimbra 1817),
• Lucrécia, tragédia, Lisboa, 1914
• Afonso de Albuquerque, tragédia; Lisboa, 1914
• Sofonisba, tragédia; Lisboa, 1914
• O Amor da Pátria, elogio dramático; Lisboa, 1914
• La Lezione Agli Amanti, ópera bufa; Lisboa, 1914
• Conde de Novion, comédia; Lisboa, 1914
• Édipo em Colona, tragédia. Lisboa, 1952 (redac.: Porto 1820)
• Ifigénia em Tauride, tragédia. Lisboa, 1952 (redac., Angra do Heroísmo 1816)
• Falar Verdade a Mentir, comédia. Rio de Janeiro, 1858
• As Profecias do Bandarra, comédia. Lisboa, 1877 (redac., Lisboa 1845)
• Os Namorados Extravagantes, drama. Coimbra 1974 (redac., Sintra 1822)
• Impronto de Sintra, comédia. Lisboa, Guimarães, Libanio, ???? (redac., Sintra, 1822)
Artigos, ensaios, biografias e folhetos
• Proclamações Académicos, Coimbra, 1820, folhetos
• O Dia Vinte e Quatro de Agosto, ensaio político. Lisboa, 1821, 53 p.
• Aos Mortos no Campo da Honra de Madrid, folheto. Lisboa, Jornal da Sociedade Literária Patriótica, 1822
• Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade, ensaio político. Londres 1826
• Da Educação. Londres, 1829
• Portugal na Balança da Europa: do que tem sido e do que ora lhe convém ser na nova ordem de coisas do mundo civilizado, Londres, 1830
• Relatório dos Decretos nº 22, 23 e 24 (Reorganização da Fazenda, Administração Pública e Justiça). Lisboa, 1832, folheto
• Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, folheto. Lisboa, 1837
• Necrologia do Conselheiro Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato, Lisboa, 1838
• Relatório ao Projecto de Lei sobre a Propriedade Literária e Artística, Lisboa, 1839
• Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, Lisboa, 1843
• Conselheiro J. B. de Almeida Garrett, autobiografia. Lisboa, 1844
• Memória Historica da Duqueza de Palmella: D. Eugénia Francisca Xavier Telles da Gama, Lisboa, 1845
• Memória Histórica do Conde de Avilez, 1ª ed., Lisboa, 1845
• Da Poesia Popular em Portugal, ensaio literário. Lisboa, 1846
• Sermão pregado na dedicação da capela de Nª Srª da Bonança, folheto, Lisboa, 1847
• A Sobrinha do Marquês, Lisboa, 1848, 176 p.
• Memória Histórica de J. Xavier Mousinho da Silveira, Lisboa, 1849
• Necrologia de D.ª Maria Teresa Midosi, Lisboa, 1950
• Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, abaixo-assinado/folheto. Lisboa 1850 (subscrito, à cabeça, por Alexandre Herculano e mais cinquenta personalidades, contra o projeto de «lei das rolhas» apresentado pelo governo)
Obras póstumas
• Discursos Parlamentares e Memorias Biographicas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, 438, p.
• Necrologia do Sr. Francisco Krus; Monumento ao Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein, Lisboa, 1899 (redac., Lisboa, 1839);
• Memórias Biográficas, Lisboa, Empreza da História de Portugal, 1904
• Necrologia à Morte de D. Leocádia Teresa de Lima e Melo Falcão Vanzeler, Lisboa, 1904 (redac., Lisboa, 1848)
• Apontamentos Biográficos do Visconde d'Almeida Garrett, autobiografia. Porto, 1916
• Entremez dos Velhos Namorados que Ficaram Logrados, Bem Logrados, Lisboa, 1954 (redac., 1841)
Romances, cancioneiros e contos
• Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, Paris, 1826
• Lealdade, ou a Vitória da Terceira, canção. Londres, 1829
• Romanceiro e Cancioneiro Geral, vol. I. Lisboa, 1843
• O Arco de Sant'Ana, romance. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1845, vol. 1
• Viagens na Minha Terra, romance. Lisboa, Typ. Gazeta dos Tribunais, 1846, 2 v. (Vol. I (eBook); Vol. II (eBook); 2 vol. juntos (eBook))
• O Arco de Sant'Ana, romance. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1850, vol. 2
• Romanceiro e Cancioneiro Geral, vols. II e III, Lisboa 1851
Obras póstumas
• Helena: fragmento de um romance inédito. Lisboa, 1871
• Memórias de João Coradinho, aventuras picarescas. Lisboa, 1881 (redac., 1825)
• Joaninha dos Olhos Verdes. Lisboa, 1941
• Komurahi - História Brasileira, conto. 1956 (redac., 1825)
• Cancioneiro de romances, xácaras e soláus e outros vestígios da antiga poesia nacional. Lisboa, 1987 (redac., 1824)
Cartas e diários
• Carta de Guia para Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer, ensaio político. Lisboa, 1826
• Carta de M. Cévola ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar, panfleto político. Londres, 1830 (pseud.: Múcio Cévola)
• Carta sobre a origem da língua portuguesa, ensaio literário. Lisboa, 1844
Obras póstumas
• Diário da minha viagem a Inglaterra, Lisboa 1881 (redac., Birmingham, 1823
• Cartas a Agostinho José Freire, Lisboa, 1904, 132 p. (redac., Bruxelas, 1834)
• Cartas Íntimas, edição revista, coordenada e dirigida por Teófilo Braga. Lisboa, Empresa da História de Portugal, 1904, 172 p.
• Cartas de Amor à Viscondessa da Luz, Lisboa, 1955
• Correspondência do Conservatório, Lisboa, 1995 (redac.: Lisboa 1836 – 1841)
• Cartas de Amor à Viscondessa da Luz
Discursos
• Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa, 1822
• Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas de Autores Antigos e Modernos, Paris, 1826-1827, 5 v.
• Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabrozo, Londres, 1830
• Da formação da segunda Câmara das Côrtes: discursos pronunciados pelo deputado J. B. de Almeida Garrett nas sessões de 9 a 12 de Outubro de 1837, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837
• Discurso do Sr. Deputado pela Terceira J. B. de Almeida Garrett na discussão, Lisboa, 1840
• Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett, na discussão da Lei da Decima, Lisboa, 1841
• Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, pronunciado na sessão de 8 de Fevereiro de 1840, Lisboa, 1840
• Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Saborosa, Lisboa, 1843
• Parecer da Comissão sobre a Unidade Literária, Lisboa, 1846 (dito Parecer sobre a Neutralidade Literária, da Associação Protectora da Imprensa Portuguesa, assinado por Rodrigo da Fonseca Magalhães, Visconde de Juromenha, Alexandre Herculano e João Baptista de Almeida Garrett)
Obras póstumas
• Política: reflexões e opúsculos, correspondência diplomática. Lisboa, 1904, 2 v.
Participação em publicações periódicas
• Toucador - Periódico sem política, dedicado às senhoras portuguesas. Lisboa, 1822 (direcção e redacção)
• Heraclito e Demócrito. Lisboa, 1823
• Português - Diário político, literário e comercial. Lisboa, 1826 – 1827 (direcção e redacção)
• Cronista - Semanário de política, literatura, ciências e artes. Lisboa, 1827 (direcção e redacção)
• Chaveco Liberal. Londres, 1829 (direcção e redacção)
• Precursor. Londres, 1831
• Português Constitucional. Lisboa, 1836 (direcção e redacção)
• Entreacto, Jornal de Teatros. Lisboa, 1837 (fundação, direcção e redacção)
• Jornal do Conservatório. Lisboa, 1841 (fundação)
• Jornal das Belas-Artes. Lisboa, 1843 – 1846 (fundação)
• Ilustração - Jornal Universal. Lisboa, 1845 – 1846 (fundação)
Alguns poemas de Garret:
Não te Amo
Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
Destino
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta -"Floresce!"-
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Este inferno de amar
Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói.
Como é que se veio atear,
Quando – ai se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… foi um sonho.
Em que a paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele olhar…
Quem me veio, ai de mim! Despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… Dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Pescador da Barca Bela
Poema publicado em Folhas Caídas
Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!
O sujeito poético aponta ao destinatário (pescador=homem) os perigos do mar (da vida) e lança-lhe um apelo para que fuja desses perigos, enquanto é tempo.
Há no desenvolvimento do assunto, um clima de fatalidade que se vai desenrolando em rampa crescente. Assim a fatalidade é logo sugerida pelo título "barca bela", porque aqui o maior perigo está na sedução e a "barca bela/que é tão bela" (de notar a insistência na beleza) é já símbolo de sedução (o homem poderá embarcar no engano). Por isso, o sujeito poético lança o primeiro aviso: "onde vais pescar com ela/que é tão bela/Oh pescador!"
E o clima de fatalidade aumenta, quando o sujeito poético avisa que "a última estrela/No céu nublado se vela". É o perigo da escuridão. Note-se ainda a mensagem fatal inserida na palavra "estrela".
Na terceira estrofe aparece a palavra "sereia", simbolicamente aqui usada para designar os perigos que esperam o pescador (o homem). Barca bela, sereia - símbolos do perigo, do perigo que está na sedução. Por isso, "cautela, oh pescador!"
O perigo vai aumentando ainda, pois aparecem já, na quarta estrofe, os efeitos desastrosos de se navegar para a perdição: "perdido é remo e vela/só de vê-la..."
E o perigo, o medo dele, atinge o ponto culminante na última estrofe: "Pescador da barca bela/Inda é tempo, foge dela/Foge dela...". Notem a repetição de "foge dela", vincando a urgência de fugir de tão grande perigo. Excelente para ser declamado em Jogos Florais!
Relevância na literatura portuguesa
No século XIX e em boa parte do século XX, a obra literária de Garrett era geralmente tida como uma das mais geniais da língua, inferior apenas à de Camões. A crítica do século XX (notavelmente João Gaspar Simões) veio questionar esta apreciação, assinalando os aspectos mais fracos da produção garrettiana.
No entanto, a sua obra conservará para sempre o seu lugar na história da literatura portuguesa, pelas inovações que a ela trouxe e que abriram novos rumos aos autores que se lhe seguiram. Garrett, até pelo acentuado individualismo que atravessa toda a sua obra, merece ser considerado o autor mais representativo do romantismo em Portugal.
Bibliografia pesquisada
- António José Saraiva e Óscar Lopes - História da Literatura Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1975
- BARREIROS, António José, História da Literatura Portuguesa, Volume 1, Edição do Autor, Braga,1996.
-COELHO, Jacinto do Prado , Dicionário de Literatura, Livraria Figueirinhas, Porto, 1981.
- MOREIRA, Vasco, PIMENTA, Hilário, Dimensão Comunicativa - 11.ºAno, Porto, Porto Editora,1998.
-QUINTELA, Dulce et alii, Temas de Língua e Cultura Portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, Junho,1980.
-Leituras - Revista da Bibilioteca Nacional, n.º 4, Primavera de 1999 (número consagrado a Almeida Garrett, e integrado nas comemorações do Bicentenário do seu nascimento);
Sítios Web sobre o escritor
Instituto Camões - Biografia, Bibliografia, Testemunhos e Estudos sobre Almeida Garrett
http://www.instituto-camoes.pt/escritores/garrett.htm
Biografia de Almeida Garrett
http://www.arqnet.pt/portal/biografias/garrett.html
Biblioteca Nacional - Vida e Obra de Almeida Garrett
http://bnd.bn.pt/ed/garrett/
Almeida Garrett - roteiro bio-bibliográfico
http://www.malhatlantica.pt/jorgefborges/almeida.htm
Projecto Vercial - Vida, Cronologia e Obra de Almeida Garrett
http://www.ipn.pt/literatura/garrett.htm
Sugestões
Realização
Maria, minha querida, parabéns por mais esta brilhante explanação sobre Almeida Garrett. Lembro-me que na faculdade eu ficava fascinada com os seus poemas amorosos, hoje, depois de ler mais um pouco sobre sua vida, pude entender o porquê: era um sedutor. O poema de Garrett que mais aprecio é "Não És Tu". Estou até para publicá-lo no Scenarium.
ResponderExcluirObrigada por este grande momento literário.
Meu carinho,
Marise Ribeiro
Maria, sou romantica por natureza, talvez por isto os poemas de Garret tenham me encantado tanto...Apesar de ter apenas setenta e um anos.
ResponderExcluirGrata,
eny@perdoesnet.com.br
Obrigada, prezada escritora e amante da Literatura! Digo isto enfaticamente porque tenho tido o prazer de comungar consigo no Scenarium há tempos!E como é bom redescobrir os valores intrínsecos do ser humano nas entrelinhas literárias!É um prazer ler os seus comentários e embebedar-se no seu mundo cultural, a exemplo deste excepcional Blog!
ResponderExcluirQuerida Eny!O Belo não escolhe idade! Escolhe pessoas que o desvendem, assim como você! Tenho uma neta que se iniciou na Literatura com os poemas de José Antonio Jacob, aos cinco aninhos!O que vale é o cultivar! Abraços!
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