Editora de Literatura ArtCulturalBrasil
Arapongas - Paraná
Poesia Portuguesa
Fernando Pessoa Parte 2
Obra poética
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa/Bernardo Soares; Autopsicografia; Publicado em 27 de Novembro de 1930.
Heterônimos
Álvaro de Campos
Ricardo Reis
Árvore genealógica, segundo pesquisa feita pelo Geneall:
Gaspar Pessoa da Cunha
Daniel Pessoa e Cunha
Perpétua Constança Chaves
Joaquim António de Araújo Pessoa
José António Pereira de Araújo e Sousa
Joana Xavier Pereira de Araújo e Sousa
Bárbara Joaquina de Sequeira Mimoso
Joaquim de Seabra Pessoa
Manuel Félix Lobo de Figueiredo
José Maria de Seabra
Dionísia Maria Rita de Oliveira de Seabra
Dionísia Rosa Estrela de Seabra
Francisco Ferreira Estrela
Ana Rosa Estrela
Joaquina Rosa da Assunção
Fernando António Nogueira Pessoa
António Jacinto Nogueira
Abílio Ponciano Nogueira
Rita Delfina do Carmo
Luís António Nogueira
Maria da Luz Rebelo
Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa
Inácio José Pinheiro
Madalena Amália Xavier Pinheiro
Ana Maria Xavier
Curiosidades
Cronologia
Obras de Fernando Pessoa
Poesias de Fernando Pessoa
Prosas de Fernando Pessoa
Obras do heterônimo Alberto Caeiro
Obras do heterônimo Álvaro de Campos
Obras do heterônimo Ricardo Reis
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
(Fernando Pessoa in Mensagem)
Análise do poema "O Mostrengo"
BIBLIOGRAFIA
artculturalbrasil@gmail.com
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa/Bernardo Soares; Autopsicografia; Publicado em 27 de Novembro de 1930.
Considera-se que a grande criação estética de Pessoa foi a invenção heteronímica que atravessa toda a sua obra. Os heterônimos, diferentemente dos pseudônimos, são personalidades poéticas completas: identidades que, em princípio falsas, se tornam verdadeiras através da sua manifestação artística própria e diversa do autor original. Entre os heterônimos, o próprio Fernando Pessoa passou a ser chamado ortônimo, porquanto era a personalidade original. Entretanto, com o amadurecimento de cada uma das outras personalidades, o próprio ortônimo tornou-se apenas mais um heterônimo entre os outros. Os três heterônimos mais conhecidos (e também aqueles com maior obra poética) foram Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto, de grande importância na obra de Pessoa é Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego, importante obra literária do século XX. Bernardo é considerado um semi-heterônimo por ter muitas semelhanças com Fernando Pessoa e não possuir uma personalidade muito característica, ao contrário dos três primeiros, que possuem até mesmo data de nascimento e morte (exceção para Ricardo Reis, que não possui data de falecimento). Por essa razão, José Saramago, laureado com o Prêmio Nobel, escreveu o livro O ano da morte de Ricardo Reis.
Através dos heterônimos, Pessoa conduziu uma profunda reflexão sobre a relação entre verdade, existência e identidade. Este último fator possui grande notabilidade na famosa misteriosidade do poeta.
“Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?”
Entre pseudônimos, heterônimos e semi-heterônimos, contam-se 72 nomes.
Ortônimo
A obra ortônima de Pessoa passou por diferentes fases, mas envolve basicamente a procura de um certo patriotismo perdido, através de uma atitude sebastianista reinventada. O ortônimo foi profundamente influenciado, em vários momentos, por doutrinas religiosas (como a teosofia) e sociedades secretas (como a Maçonaria). A poesia resultante tem um certo ar mítico, heróico (quase épico, mas não na acepção original do termo) e por vezes trágico. Pessoa é um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da vida. Uma explicação para a criação dos três principais heterônimos e o semi-heterônimo Bernardo Soares, reside nas várias formas que tinha de olhar o mundo, apoiando-se no racionalismo e pensamento oriental.
O ortônimo é considerado, só por si, como simbolista e modernista pela evanescência, indefinição e insatisfação, bem como pela inovação praticada através de diversas sendas de formulação do discurso poético (sensacionalismo, paulismo, interseccionismo, etc.).
Fernando Pessoa foi marcado também pela poesia musical e subjetiva, voltada essencialmente para a metalinguagem e os temas relativos a Portugal, como o sebastianismo presente na principal obra de "Pessoa ele-mesmo", Mensagem, uma coletânea de poemas sobre os grandes
Heterônimos
Álvaro de Campos
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Entre todos os heterônimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.
Começa a sua trajetória como um decadentista (influenciado pelo simbolismo), mas logo adere ao futurismo. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista, expressa naquele que é considerado um dos poemas mais conhecidos e influentes da língua portuguesa, Tabacaria. É revoltado e crítico e faz a apologia da velocidade e da vida moderna, com uma linguagem livre, radical.
Ricardo Reis
O heterônimo Ricardo Reis é descrito como um médico que se definia como latinista e monárquico. De certa maneira, simboliza a herança clássica na literatura ocidental, expressa na simetria, na harmonia e num certo bucolismo, com elementos epicuristas e estóicos. O fim inexorável de todos os seres vivos é uma constante na sua obra, clássica, depurada e disciplinada. Faz uso da mitologia não-cristã. Segundo Pessoa, Reis mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal e não se sabe o ano da sua morte.
Em O ano da morte de Ricardo Reis, José Saramago continua, numa perspectiva pessoal, o universo deste heterônimo após a morte de Fernando Pessoa, cujo fantasma estabelece um diálogo com o seu heterônimo, sobrevivente ao criador.
Alberto Caeiro
Por sua vez, Caeiro, nascido em Lisboa, teria vivido quase toda a vida como camponês, quase sem estudos formais. Teve apenas a instrução primária, mas é considerado o mestre entre os heterônimos (pelo ortônimo, inclusive). Após a morte do pai e da mãe, permaneceu em casa com uma tia-avó, vivendo de modestos rendimentos. Morreu de tuberculose. Também é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma "não-filosofia". Acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais: irritava-se com a metafísica e qualquer tipo de simbologia para a vida.
Nos escritos pessoanos que versam sobre a caracterização dos heterônimos, Pessoa, dito "ele mesmo", assim como a Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o meio-heterônimo Bernardo Soares, conferem a Alberto Caeiro um papel quase místico enquanto poeta e pensador. Reis e Soares chegam a compará-lo ao deus Pã, e Pessoa esboça-lhe um horóscopo no qual lhe atribui o signo de leão, associado ao elemento fogo. A relevância destas alusões se esclarecem na explicação de Fernando Pessoa sobre o papel de Caeiro no escopo da heteronímia. Citando a atuação dos quatro elementos da astrologia sobre a personalidade dos indivíduos, Pessoa escreve:
"Uns agem sobre os homens como o fogo, que queima nele todo o acidental, e os deixa nus e reais, próprios e verídicos, e esses são os libertadores. Caeiro é dessa raça. Caeiro teve essa força."
Dos principais heterônimos de Fernando Pessoa, Caeiro foi o único a não escrever em prosa. Alegava que somente a poesia seria capaz de dar conta da realidade.
Possuía uma linguagem estética direta, concreta e simples mas, ainda assim, bastante complexa do ponto de vista reflexivo. O seu ideário resume-se no verso Há metafísica bastante em não pensar em nada. A sua obra está agrupada na coletânea Poemas Completos de Alberto Caeiro.
Árvore genealógica, segundo pesquisa feita pelo Geneall:
Gaspar Pessoa da Cunha
Daniel Pessoa e Cunha
Perpétua Constança Chaves
Joaquim António de Araújo Pessoa
José António Pereira de Araújo e Sousa
Joana Xavier Pereira de Araújo e Sousa
Bárbara Joaquina de Sequeira Mimoso
Joaquim de Seabra Pessoa
Manuel Félix Lobo de Figueiredo
José Maria de Seabra
Dionísia Maria Rita de Oliveira de Seabra
Dionísia Rosa Estrela de Seabra
Francisco Ferreira Estrela
Ana Rosa Estrela
Joaquina Rosa da Assunção
Fernando António Nogueira Pessoa
António Jacinto Nogueira
Abílio Ponciano Nogueira
Rita Delfina do Carmo
Luís António Nogueira
Maria da Luz Rebelo
Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa
Inácio José Pinheiro
Madalena Amália Xavier Pinheiro
Ana Maria Xavier
Curiosidades
• O professor universitário Armindo Freitas-Magalhães criou um inédito programa de literacia emocional, inspirado no verso de Fernando Pessoa "Se às Vezes as Flores Sorriem" (2009).
• Numa tarde em que José Régio tinha combinado encontrar-se com Pessoa, este apareceu, como de costume, com algumas horas de atraso, declarando ser Álvaro de Campos e pedindo perdão por Pessoa não ter podido comparecer ao encontro.
• Fernando Pessoa trabalhava como correspondente comercial, num sistema que hoje denominamos free lancer. Assim, podia trabalhar apenas dois dias por semana, dedicando os demais, exclusivamente, à sua grande paixão: a literatura.
• A poetisa, professora e jornalista brasileira Cecília Meireles foi a Portugal em 1934, para proferir conferências na Universidade de Coimbra e na Universidade de Lisboa. Um grande desejo seu era conhecer o poeta, de quem se tinha tornado admiradora. Através de um dos escritórios para os quais Fernando Pessoa trabalhava, conseguiu comunicar com ele e marcar um encontro para o meio-dia, mas esperou inutilmente até às duas da tarde sem que Pessoa desse um ar da sua graça. De regresso ao hotel, Cecília teve a surpresa de encontrar um exemplar do livro Mensagem e um recado do misterioso poeta, justificando que não comparecera porque consultara os astros e, segundo o seu horóscopo, "os dois não eram para se encontrar". Realmente, não se encontraram nem houve muito mais oportunidades para tal, pois no ano seguinte Fernando Pessoa faleceu.
• Pessoa media 1,73 m de altura, de acordo com o seu Bilhete de Identidade.
• O assento de óbito de Pessoa indica como causa da morte "bloqueio intestinal".
• A Universidade Fernando Pessoa (UFP), com sede no Porto, foi criada em homenagem ao poeta.
• Fernando Pessoa é o primeiro português a figurar na Plêiade (Collection Bibliothèque de la Pléiade), prestigiada coleção francesa de grandes nomes da literatura.
• Ofélia Queiroz, sua namorada, criou um heterônimo para Fernando Pessoa: Ferdinand Personne. "Ferdinand" é o equivalente a "Fernando" em alguns idiomas e "Personne" significa "ninguém" em francês, residindo a curiosidade deste trocadilho no fato de Fernando, por criar outras personalidades, não ter um eu definido.
• Em Os Mal-Amados (2008), Fernando Dacosta relata uma conversa com Agostinho da Silva, que conhecera pessoalmente Fernando Pessoa em Dezembro de 1934. O poeta confidenciara-lhe, acabrunhado, que estava muito arrependido por ter escrito as cartas de amor a Ofélia. "Fizera-o movido pela sua irremediável fantasia heteronímica" (pg. 358), para saber como seria o romance entre um vulgar empregado de escritório e uma sua colega de trabalho, carente de afecto. Disfrutou o jogo durante algum tempo, mas, quando se apercebeu da monstruosidade da coisa, pôs fim ao romance fictício, para não fazer sofrer uma mulher real e apaixonada.
• O cantor brasileiro Caetano Veloso compôs a canção "Língua", em que existe um trecho inspirado num artigo de Fernando sobre o tema "A minha pátria é a língua portuguesa". O trecho é: A língua é minha Pátria / E eu não tenho Pátria: tenho mátria / Eu quero frátria. Já o compositor Tom Jobim transformou o poema O Tejo é mais Belo em música. Identicamente, Vitor Ramil, cuja música "Noite de São João" tem como letra a poesia de Alberto Caeiro. A cantora Dulce Pontes musicalizou o poema O Infante. O grupo Secos e Molhados musicalizou a poesia "Não, não digas nada". Os portugueses Moonspell cantam no tema Opium um trecho da obra Opiário de Álvaro de Campos. O cantor Renato Braz traz no seu CD "Outro Quilombo" duas poesias musicadas: "Segue o teu destino", de Ricardo Reis, e "Na ribeira deste rio", de Fernando Pessoa.
• O jornal Expresso e a empresa Unisys criaram, em 1987, o Prémio Pessoa, concedido anualmente à pessoa ou às pessoas de nacionalidade portuguesa que, durante o ano transcorrido e na sequência de actividade anterior, se tenham distinguido na vida científica, artística ou literária.
• Em 2006, a empresa Unicre lançou um cartão de crédito intitulado "A palavra", onde o titular pode gravar, à escolha, uma de 6 frases de Fernando Pessoa ou dos seus heterônimos.
Cronologia
A seguir apresenta-se uma cronologia abreviada da vida do poeta:
1888: Fernando António Nogueira Pessoa nasce, em Junho. É batizado em Julho.
1893: Em Janeiro, nasce seu irmão Jorge. A 13 de Julho, o pai morre, de tuberculose. A família é obrigada a leiloar parte dos bens.
1894: O irmão de Fernando, Jorge, morre em Janeiro. Pessoa cria o seu primeiro heterônimo. O futuro padrasto, João Miguel Rosa, é nomeado cônsul interino em Durban, na África do Sul.
1895: Em Julho, Fernando escreve o seu primeiro poema e João Miguel Rosa parte para Durban. Em Dezembro, João Miguel Rosa casa-se com a mãe de Fernando, por procuração.
1896: Em 7 de Janeiro, é concedido o passaporte à mãe, e a família parte para Durban. A 27 de Novembro, nasce Henriqueta Madalena, irmã do poeta.
1897: Fernando faz o curso primário e a primeira comunhão em West Street.
1898: Nasce, a 22 de Outubro, sua segunda irmã, Madalena Henriqueta.
1899: Ingressa na Durban High School em Abril. Cria o pseudónimo Alexander Search.
1900: Em Janeiro, nasce o terceiro filho do casal, Luís Miguel. Em Junho, Pessoa passa para a Form III e é premiado em francês.
1901: Em Junho, é aprovado no exame da Cape School High Examination. Madalena Henriqueta falece e Fernando começa a escrever as primeiras poesias em inglês. Em Agosto, parte com a família para uma visita a Portugal.
1902: Em Janeiro, nasce, em Lisboa, seu irmão João Maria. Fernando vai à ilha Terceira em Maio. Em Junho, a família retorna a Durban. Em Setembro, Fernando volta sozinho para Durban.
1903: Submete-se ao exame de admissão à Universidade do Cabo, tirando a melhor nota no ensaio em inglês e ganhando assim o Prémio Rainha Vitória.
1904: Em Agosto, nasce sua irmã Maria Clara e em Dezembro termina os estudos na África do Sul.
1905: Parte definitivamente para Lisboa, onde passa a viver com a avó Dionísia. Continua a escrever poemas em inglês.
1906: Matricula-se, em Outubro, no Curso Superior de Letras. A mãe e o padrasto retornam a Lisboa e Pessoa volta a morar com eles. Falece, em Lisboa, a sua irmã Maria Clara.
1907: A família retorna uma vez mais a Durban. Pessoa passa a morar com a avó. Desiste do Curso Superior de Letras. Em Agosto, a avó morre. Durante um curto período, Pessoa estabelece uma tipografia.
1908: Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro em escritórios comerciais.
1910: Escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.
1912: Publica na revista Águia o seu primeiro artigo de crítica literária. Idealiza Ricardo Reis.
1913: Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.
1914: Cria os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também o Livro do Desassossego.
1915: Sai em Março o primeiro número de Orpheu. Pessoa "mata" Alberto Caeiro.
1916: O seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.
1918: Publica poemas em inglês, resenhados com destaque no "Times".
1920: Conhece Ofélia Queiroz. Sua mãe e seus irmãos voltam para Portugal. Em Outubro, atravessa uma grande depressão, que o leva a pensar em internar-se numa casa de saúde. Rompe com Ofélia.
1921: Funda a editora Olisipo, onde publica poemas em inglês.
1924: Aparece a revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.
1925: A 17 de Março, morre, em Lisboa, a mãe do poeta.
1926: Dirige com seu cunhado a "Revista de Comércio e Contabilidade". Requer patente de uma invenção sua.
1927: Passa a colaborar com a revista Presença.
1929: Volta a relacionar-se com Ofélia.
1931: Rompe novamente com Ofélia.
1934: Publica Mensagem.
1935: Em 29 de Novembro, é internado com o diagnóstico de cólica hepática. Morre no dia 30.
Obras de Fernando Pessoa
• Do Livro do Desassossego
• Ficções do interlúdio: para além do outro oceano
• Na Floresta do Alheamento
• O Banqueiro Anarquista
• O Marinheiro
• Por ele mesmo
Poesias de Fernando Pessoa
• A barca
• Aniversário
• Autopsicografia
• À Emissora Nacional
• Amei-te e por te amar...
• Antônio de Oliveira Salazar
• Autopsicografia
• Elegia na Sombra
• Isto
• Liberdade
• Mar português
• Mensagem
• Natal
• O Eu profundo e os outros Eus
• O cancioneiro
• O Menino da Sua Mãe
• O pastor amoroso
• Poema Pial
• Poema em linha reta
• Poemas Traduzidos
• Poemas de Ricardo Reis
• Poesias Inéditas
• Poemas para Lili
• Poemas de álvaro de Campos
• Presságio
• Primeiro Fausto
• Quadras ao gosto popular
• Ser grande
• Solenemente
• Todas as cartas de amor...
• Vendaval
Prosas de Fernando Pessoa
• Pessoa e o Fado: Um Depoimento de 1929
• Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação
• Páginas de Estética e de Teoria e de Crítica Literárias
Obras do heterônimo Alberto Caeiro
• O Guardador de Rebanhos
• O guardador de rebanhos - XX
• A Espantosa Realidade das Cousas
• Um Dia de Chuva
• Todos os Dias
• Poemas Completos
• Quando Eu não tinha
• Vai Alta no Céu a lua da Primavera
• O Amor é uma Companhia
• Eu Nunca Guardei Rebanhos
• O Meu Olhar
• Ao Entardecer
• Esta Tarde a Trovoada Caiu
• Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada
• Pensar em Deus
• Da Minha Aldeia
• Num Meio-Dia de Fim de Primavera
• Sou um Guardador de Rebanhos
• Olá, Guardador de Rebanhos
• Aquela Senhora tem um Piano
• Os Pastores de Virgílio
• Não me Importo com as Rimas
• As Quatro Canções
• Quem me Dera
• No meu Prato
• Quem me Dera que eu Fosse o Pó da Estrada
• O Luar
• O Tejo é mais Belo
• Se Eu Pudesse
• Num Dia de Verão
• O que Nós Vemos
• As Bolas de Sabão
• às Vezes
• Só a Natureza é Divina
• Li Hoje
• Nem Sempre Sou Igual
• Se Quiserem que Eu Tenha um Misticismo
• Se às Vezes Digo que as Flores Sorriem
• Ontem à Tarde
• Pobres das Flores
• Acho tão Natural que não se Pense
• Há Poetas que são Artistas
• Como um Grande Borrão
• Bendito seja o Mesmo Sol
• O Mistério das Cousas
• Passa uma Borboleta
• No Entardecer
• Passou a Diligência
• Antes o Vôo da Ave
• Acordo de Noite
• Um Renque de árvores
• Deste Modo ou Daquele Modo
Obras do heterônimo Álvaro de Campos
• Acaso
• Acordar
• Adiamento
• Afinal
• A Fernando Pessoa
• A Frescura
• Ah, Onde Estou
• Ah, Perante
• Ah, Um Soneto
• Ali Não Havia
• Aniversário
• Ao Volante
• Apostila
• às Vezes
• Barrow-on-Furness
• Bicarbonato de Soda
• O Binômio de Newton
• A Casa Branca Nau Preta
• Chega Através
• Cartas de amor
• Clearly Non-Campos!
• Começa a Haver
• Começo a conhecer-me. Não existo
• Conclusão a sucata !... Fiz o cálculo
• Contudo
• Cruz na Porta
• Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
• Datilografia
• Dela Musique
• Demogorgon
• Depus a Máscara
• Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados
• O Descalabro
• Dobrada à morda do Porto
• Dois Excertos de Odes
• Domingo Irei
• Escrito Num Livro Abandonado em Viagem
• Há mais
• Insônia
• O Esplendor
• Esta Velha
• Estou
• Estou Cansado
• Eu
• Faróis
• Gazetilha
• Gostava
• Grandes
• Há Mais
• Lá chegam todos, lá chegam todos...
• Lisboa
• O Florir
• O Frio Especial
• Lisbon Revisited - l923
• Lisbon Revisited - 1926
• Magnificat
• Marinetti Acadêmico
• Mas Eu
• Mestre
• Na Casa Defronte
• Na Noite Terrivel
• Na Véspera
• Não Estou
• Não, Não é cansaço
• Não: devagar
• Nas Praças
• Psiquetipia (ou Psicotipia)
• Soneto já antigo
• The Times
Obras do heterônimo Ricardo Reis
• A Abelha
• A Cada Qual
• Acima da verdade
• A flor que és
• Aguardo
• Aqui
• Aqui, dizeis
• Aqui, neste misérrimo desterro
• Ao Longe
• Aos Deuses
• Antes de Nós
• Anjos ou Deuses
• A palidez do dia
• Atrás não torna
• A Nada Imploram
• As Rosas
• Azuis os Montes
• Bocas Roxas
• Breve o Dia
• Cada Coisa
• Cada dia sem gozo não foi teu
• Cancioneiro
• Como
• Coroai-me
• Cuidas, índio
• Da Lâmpada
• Da Nossa Semelhança
• De Apolo
• De Novo Traz
• Deixemos, Lídia
• Dia Após Dia
• Do que Quero
• Do Ritual do Grau de Mestre do átrio na Ordem Templária de Portugal
• Domina ou Cala
• Eros e Psique
• Estás só. Ninguém o sabe
• Este seu escasso campo
• é tão suave
• Feliz Aquele
• Felizes
• Flores
• Frutos
• Gozo Sonhado
• Inglória
• Já Sobre a Fronte
• Lenta, Descansa
• Lídia
• Melhor Destino
• Mestre
• Meu Gesto
• Nada Fica
• Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero
• Cristo Não a Ti, Cristo, odeio ou menosprezo
• Não Canto
• Não Consentem
• Não queiras
• Não quero, Cloe, teu amor, que oprime
• Não quero recordar nem conhecer-me
• Não Só Vinho
• Não só quem nos odeia ou nos inveja
• Não sei de quem recordo meu passado
• Não Sei se é Amor que TenS
• Não Tenhas
• Nem da Erva
• Negue-me
• Ninguém a Outro Ama
• Ninguém, na vasta selva virgem
• No Breve Número
• No Ciclo Eterno
• No Magno Dia
• No mundo, Só comigo, me deixaram
• Nos Altos Ramos
• Nunca
• Ouvi contar que outrora
• Olho
• O que Sentimos
• Os Deuses e os Messias
• O Deus Pã
• Os Deuses
• O Ritmo Antigo
• O Mar Jaz
• O Sono é Bom
• O Rastro Breve
• Para os Deuses
• Para ser grande, sê inteiro: nada
• Pesa o Decreto
• Ponho na Altiva
• Pois que nada que dure, ou que, durando
• Prazer
• Prefiro Rosas
• Quanta Tristeza
• Quando, Lídia
• Quanto faças, supremamente faze
• Quem diz ao dia, dura! e à treva, acaba!
• Quer Pouco
• Quero dos Deuses
• Quero Ignorado
• Rasteja Mole
• Sábio
• Saudoso
• Segue o teu destino
• Se Recordo
• Severo Narro
• Sereno Aguarda
• Seguro Assento
• Sim
• Só o Ter
• Só Esta Liberdade
• Sofro, Lídia
• Solene Passa
• Se a Cada Coisa
• Sob a leve tutela
• Súbdito Inútil
• Tão cedo passa tudo quanto passa!
• Tão Cedo
• Tênue
• Temo, Lídia
• Tirem-me os Deuses
• Tudo que Cessa
• Tuas, Não Minhas
• Uma Após Uma
• Uns
• Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
• Vivem em nós inúmeros
• Vive sem Horas
• Vossa Formosa
O Monstrengo
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
(Fernando Pessoa in Mensagem)
Análise do poema "O Mostrengo"
O poema "O Mostrengo" enquadra-se na segunda parte de Mensagem: O Mar Português. A segunda parte, por sua vez, está encimada pela elocução latina possessio maris (posse do mar). Na segunda parte de Mensagem, Fernando Pessoa expressa a nobreza dos atos, que acompanhou a nobreza da intenção, revelada na primeira parte.
Sempre considerada como impregnada de um sentido de épico eminentemente racionalista e intelectual, a Mensagem encontra na sua segunda parte alguns dos episódios mais descritivos e emocionais. No seu todo é, sem dúvida, uma obra simbólica e obscura, atravessada por um sentimento negro de exaustiva análise e frustração por um futuro ainda por acontecer. No entanto, tratando-se do episódio do Mostrengo, a análise é diferenciada. Pessoa parece querer por momentos desafiar Camões, alvo de comentários menos elogiosos por parte de Pessoa em alguns momentos da sua vida, e comparativamente elaborar um momento de grande força dramática e menor força simbólica. Assim analisa Jacinto do Prado Coelho o Mostrengo: “«O Mostrengo» opõe dramaticamente , em decassílabos sonoros com um refrão cuja força épica aumenta de estrofe para estrofe («El-Rei D. João Segundo!»), a decisão do marinheiro português, instrumento inflexível da vontade do rei, à indignação do ser «imundo e grosso» que sai, escorrendo medos, das profundezas do mar: «Aqui ao leme sou mais do que eu: / sou um povo que quer um mar que é teu!»). excepcionalmente, o poeta, sob a sugestão do Adamastor, empunha a «tuba canora e belicosa» (…) Assim, em versos de densidade poética e sugestão rítmica insuperáveis, Fernando Pessoa, comunicando-se, foi também o intérprete comovido da História nacional”. O Mostrengo, um poema originalmente escrito em 1918 (Pessoa tem então 30 anos) é menos sombrio e hermético que outros que viriam a constituir a Mensagem, que também originalmente se deveria chamar Portugal. Isto deve-se a uma desilusão crescente em Pessoa, que se em 1912 na sua primeira experiência como escritor/crítico clama por um Super-Camões e por um renascimento da psique nacional, mais tarde vês que nem Sidônio Pais, nem a Ditadura Militar que se lhe segue surgem como soluções para tal. Torna-se progressivamente mais escura e hermética a linguagem de Pessoa, embrenhada num messianismo que ele vê difícil de se cumprir senão pelos mistérios de uma fé no regresso de uma nobreza já estranha aos seus contemporâneos. Pode considerar-se que o poeta se mantém um ingênuo. Que embora sinta profundamente o seu nacionalismo, mais profundamente até porque esteve longe de Portugal e sentiu longe o que era realmente a saudade de um passado mais tranquilo do que aquele que vivia, ele é inocente quando pretende uma revolução pelo espírito, quando pretende enunciar os princípios em que basearia uma nova civilização e esperasse essa realidade. Considerando-se um «nacionalista místico», essa revolução teria de ser sempre em bases espirituais e é assim que ele as invoca.
O Mostrengo, embora reduzido em simbolismo – parece-me apenas uma aproximação a um tema de Camões, e uma aproximação lírica não-simbólica ao tema da ação dos homens – tem, ainda assim, algo de simbólico na presença do número três. Três foram os heterônimos principais (ou heterônimos únicos, desenvolvidos, pois Bernardo Soares é um pseudônimo e só Alexander Search teria eventualmente dimensão de heterônimo mas nunca foi desenvolvido enquanto tal pelo poeta), três são as estrofes de “O Mostrengo” e três um número que paira sobre o poema, como uma sombra de misticismo, como que dizendo que mesmo nas puras ações de coragem há a presença do divino ou pelo menos do conhecimento oculto. Isto significa que mesmo na mais simples das ações há desígnio e destino, que nunca pode ser negado, quer no homem, quer na natureza. O pobre homem do leme ou o Mostrengo são armas sensíveis de um poder maior do que eles mesmos, ou até do que o destino de ambos
BIBLIOGRAFIA
"Fernando Pessoa - Obra em Prosa", Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1995. Organização, Introdução e Notas de Cleonice Berardinelli. Contém: O EU PROFUNDO, OS OUTROS EUS (Gênese e Justificação de Heteronímia, Caracterização individual dos Heterônimos, Paganismo, Neopaganismo e Cristianismo nos Heterônimos), IDÉIAS ESTÉTICAS (Da Arte, Da Literatura), IDÉIAS FILOSÓFICAS, IDÉIAS POLÍTICAS (Em Geral, Aplicadas ao Caso Português), TEORIA E PRÁTICA DO COMÉRCIO, FICÇÃO (Contos de Raciocínio, Conto (Filosófico) de Pero Botelho).
"Fernando Pessoa - Obra Poética", Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1995. Contém: Introdução (Fernando Pessoa, um encontro de poesia / Cronologia), Poesia de Fernando Pessoa (Mensagem / À memória do presidente-rei Sidónio Pais / Quinto Império / Cancioneiro), Ficções do Interlúdio (Poemas completos de Alberto Caeiro / Odes de Ricardo Reis / Poesia de Álvaro de Campos / Para além doutro oceano de Coelho Pacheco), Poemas Dramáticos (Na floresta do alheamento / O marinheiro / Primeiro Fauso), Poesias Coligidas (Inéditas 1919-1935 / Poemas ingleses / Poemas franceses / Poemas traduzidos para o português), Quadras ao Gosto Popular (325 quadras / Poemas para Lili / Poema Pial), Novas Poesias Inéditas.
"Pessoa Inédito" - Organização de Teresa Rita Lopes. Livros Horizonte. Portugal.
"Para Compreender Fernando Pessoa" - Amélia Pais - Editora Areal editores, Porto, Portugal.
"Fernando Pessoa - Aquém do eu, além do outro" - Leyla Perrone-Moisés. São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1982.
"Fernando Pessoa na Intimidade" - Isabel Murteira França. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1987.
"Livro do Desassossego - Vol. I e II" - Bernardo Soares (Heterônimo de Fernando Pessoa). Editora da UNICAMP, 1994.
Antologia de Fernando Pessoa" - Instituto Cultural de Macau, 1988. Seleção, tradução e anotações de Zhang Weimin.
"Magick in Theory and Practice" - Aleister Crowley. Castle Books, 1991.
Sugestões
Realização
artculturalbrasil@gmail.com